domingo, 14 de março de 2010

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"Um enorme quartel governado por soldados pacifistas."

Definição feita pelo Doutor Nuno Lobo Antunes para um Mundo governado por pessoas com a Síndrome de Asperger.

Eu não poderia estar mais de acordo...

domingo, 7 de março de 2010

Robot

Remexendo no baú das memórias, folheio um álbum e de repente deparo-me com um par de olhos brilhantes, boquita aberta num sorriso franco, carinha laroca, fixa na câmara fotográfica! Nas mãos segura um velho comando de TV… Detonador de tão grande satisfação! Recordo com certa nostalgia…

Era tão complicado para ele compreender o porquê das tarefas. Não percebia que as regras eram para cumprir, mesmo que interferissem com a rotina, quebrassem o normal decorrer de uma brincadeira. Qualquer mudança ou simples alteração, fazia desmoronar o castelo de cartas que era o seu mundo e gerava-se o CaOs… Seguiam-se os gritos, choros ininterruptos, esgadanhar de mãos e pés…! Escutava, mas não descodificava a mensagem.

Recordo, em especial a hora do banho. Não queria, fugia, escondia-se, inventava mil e um pretextos que nos arremessava como armas ao mesmo tempo que encetávamos o jogo do gato e do rato (confesso que devo a estes momentos, parte da minha boa condição física). Quando finalmente o convencíamos a despir-se e entrar na água, era frequente o banho prolongar-se…

Esta fase durou algum tempo. Se disser que não nos irritávamos e que tínhamos sempre muita paciência, estaria a mentir. Num desses dias, em que eu já previa o inicio de mais um duelo entre a imposição das nossas vontades, antecipando a troca de argumentos, para a qual eu sentia que não tinha forças, lembrei-me dirigir a ele como se fosse um robot.

Assumi então, uma voz silabada, tom mecanizado, gestos coordenados e simétricos, andar robotizado e ordenei-lhe que tinha de ir ao banho. Ele olhou para mim, arregalou os olhos e correu na minha direcção obedecendo fielmente às minhas ordens, soltando gritinhos de satisfação. Eu nem queria acreditar! Ele também não! Queria ser também robot. Com a condição de cumprir todas as ordens, passei-lhe para as mãos o velho comando de TV . Perdão, o comando do robot .

Naquela noite, não houve choro para tomar banho, nem para jantar, nem para ir para a cama, nem para coisa nenhuma.