quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Tudo a seu tempo

Sempre lhe demos espaço para que evoluísse ao seu ritmo, sem pressões, sem stress…
Em vez de engatinhar para a frente como se espera de um bebé, ele só engatinhava em marcha atrás, o que nunca o impediu de chegar aonde queria. Aos treze meses iniciava a marcha normalmente.
A fralda,
largou-a definitivamente um mês antes do seu terceiro aniversário.
Em conversa com as minhas colegas em que elas contavam alegremente as “saídas” dos seus rebentos, (naquela idade em que tudo o que eles dizem tem muita graça) eu comentava que o meu filho nunca me contava nada. Ríamo-nos, cumplices… Não podia, pois aos três anos não articulava uma palavra. Contudo, passados quatro meses do seu aniversário começou a falar, expressando um discurso coerente e bastante diversificado.
Em relação à linguagem, sempre achei curiosa a forma como enriquecia o seu vocabulário. Quando escutava determinada palavra cujo significado desconhecia, perguntava-nos o que queria dizer. Explicávamos-lhe e ele ficava satisfeito. Julgo que processava e arquivava a informação. Passado algum tempo, às vezes tanto, que já nem nos lembrávamos, no decorrer de uma conversa, em que o contexto proporcionava, ele introduzia uma palavra nova.
Tem sido sempre assim. Põe em prática as competências estipuladas pelos especialistas para determinada idade, não quando nós achamos que as deve por, mas sim quando sente que está preparado para as demonstrar sem risco de falhar (se não o acompanhasse em praticamente todas as horas livres, suspeitaria que as treina em segredo).
Por isso, compreendemos que só aos nove anos se sinta à vontade para “desbravar” certos caminhos, que para uma criança dita “normal”, se iniciam mais cedo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Papéis invertidos...

O dia mantivera-se solarengo com uma temperatura agradável, convidando a um mergulho. Todavia, o final do dia aproximava-se salpicando o céu de nuvens acinzentadas, prenuncio de uma noite chuvosa. Ao mesmo tempo surgia uma leve brisa que nos acariciava a pele com o ar morno da tarde .
A promessa estava feita e não havia como voltar atrás. Vestimos os fatos de banho, preparámos o saco e descemos até à praia (confesso que da minha parte, um pouco a contra gosto). Chegados lá, verificámos que a maré estava a subir. Caminhámos pela rampa de cimento até ao areal e seguimos até ao nosso poiso habitual. Pelo caminho parámos para trocar meia dúzia de palavras com uma amiga. Reparei que, com excepção de nós, apenas um grupo de veraneantes se encontrava alguns metros mais à frente. Comentei com a minha amiga que tal situação me deixava desconfortável, pois apesar de a praia ser segura, preferia que estivessem mais pessoas. Ele ajoelhara-se e estivera entretido a esgravatar na areia, construindo um castelo ou algo semelhante... De súbito, interrompeu a conversa com estas palavras: "Mãe. Se te sentires mais confortável podemos ir para a piscina. Eu não me importo." (referia-se a uma piscina natural que também é hábito frequentarmos).
Não fomos embora. Permanecemos na "nossa enseada", chapinhando na água e deixando que as ondas quebradas pelos rochedos nos arrastassem pela areia (manteve-se o pacto de não ultrapassar o nível da água pela cintura).
Só quando as ondas vieram roçar a ponta das toalhas, deu sinais de preocupação. Não queria ficar preso na enseada.
Desta vez foi ele a apressar-me. Queria despachar-se, ir para casa, tomar banho, jantar e depois dar um passeio pelo pontão da marina descobrindo no horizonte, entre o mar e o céu, formas escondidas nas nuvens! (às vezes invejo-lhe esta capacidade de planeamento).

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A bicicleta...

Gemeu ao dobrar o joelho para se calçar…as nódoas negras e os arranhões que lhe mancham as pernas são o testemunho da luta que travou para conseguir aprender a andar de bicicleta.

Recebeu-a de presente quando fez cinco anos. Não lhe deu nenhuma importância, deixando-a esquecida num recanto do hall de entrada. Salvo quando lhe perguntávamos se queria aprender, nunca se referia a semelhante objecto. Desconfio até que no seu íntimo terá desejado muitas vezes que não existisse (até mesmo que nunca tivesse sido inventado). Para quê? Já sabíamos que não gostava. Não queria e nunca, mas mesmo nunca iria aprender a andar. Era muito difícil!

Da mesma forma que lhe colocamos o pepino e o tomate no prato, mesmo sabendo que não o vai comer, continuamos a fazê-lo porque acreditamos que um dia (pode demorar meses) não vai resistir e vai prová-los, também nos limitámos a fazer, de vez em quando, referência à pequena bicicleta vermelha e prateada que, tal como nós, esperava pacientemente a sua estreia.

Entretanto, aprendeu a equilibrar-se nos patins e a nadar. Recentemente, em conversa, calhou comparar o grau de dificuldade destas aprendizagens com a de aprender a andar de bicicleta. Ficou admirado por eu achar que esta última era muito mais fácil (para mim foi, tendo em conta que aprendi a andar de patins aos trinta e cinco anos). Parecia mentira que tal fosse possível. Mesmo assim, guardou a informação. Não se falou mais do assunto.

Há dois dias, acordou e disse: “Hoje quero aprender a andar de bicicleta. Ensinas-me?”. Despachei-me em tempo recorde (não fosse ele mudar de ideias) e em poucos minutos estávamos na rua.

O primeiro passo foi ensaiar a queda várias vezes, para ter a certeza que ficava bem entendido (como aliás, mais tarde, se veio a verificar). Depois, treinar o arranque e seguir em frente (aos ziguezagues) comigo a segurar-lhe o selim ao mesmo tempo que lhe chamava a atenção para manter o tronco direito, virar apenas o volante e não inclinar-se sobre a bicicleta…Uma hora depois a lição terminava com ele a deslizar rua abaixo, qual cavaleiro tentando domar o seu cavalo. Acabaria estatelado na relva, magoado mas feliz!

Ontem, quando lhe propus uma ida até à praia, respondeu-me que só voltaria à praia quando soubesse andar de bicicleta “na perfeição”. Passou a manhã e a tarde a andar (e a cair também). De todas as vezes que caía, levantava-se mais decidido. Fez do parque o seu campo de batalha empenhado em enfrentar de uma vez por todas a máquina que o desafiara tanto tempo e agora teimava em não deixar-se subjugar. Chorou, resmungou e gritou, mas nunca desistiu. De mim só exigiu que o observasse. Não precisava de ajuda, queria fazer tudo sozinho! Não só o fez, como o conseguiu!

A mim coube ficar ali, aplaudir e registar o momento.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sinceridade

Há poucos dias estávamos sentados lado a lado. Questionava-o sobre o seu dia, como tinham decorrido as actividades na escola (tenho de aproveitar quando ele está receptivo a este tipo de diálogo)...
A determinada altura, olhei-o nos olhos e pousando a mão sobre o seu rosto, disse-lhe: "És tão lindo, Fofinho! Nunca me canso de olhar para ti."
Não sei se por achar que também devia retribuir a gentileza, ele repetiu o mesmo gesto. Estendeu a mão, afastando o cabelo da minha face e afirmou: "Tu também és muito linda mãe! Podes achar o teu nariz um pouco grande. Mas não te preocupes, o do pai é maior. Tens um olho ligeiramente diferente do outro. Não tem importância. Para mim és mesmo muito linda!"
Amei cada palavra! Foram palavras sinceras, puras, objectivas... Não magoaram, nem ofenderam, justamente porque não tinham essa intenção.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Em síntese...

Numa das últimas aventuras que lemos de “Jerónimo Stilton - Os Segredos de Ratázia”, o argumento gira em torno da procura dos segredos mais íntimos desta personagem, levada a cabo por dois repórteres de uma revista sensacionalista. Perante a frustração de nada conseguirem descobrir, deturpam a verdade e publicam notícias totalmente falsas sobre Jerónimo.

Uma noite, depois de lermos um capítulo, o nosso filho quis saber porque é que os jornalistas publicam notícias falsas sobre o simpático ratinho. Expliquei-lhe que as figuras públicas suscitam sempre curiosidade. Muita gente quer saber como se vestem, com quem andam, o que fazem… e que se trata de uma situação que acontece na vida real. Existem publicações que se especializam nesse tipo de assunto. Muitas vezes, a verdade é deturpada trazendo frequentemente, consequências negativas para a vida dessas pessoas e das que lhes são próximas.

Escutou-me com muita atenção. No final mostrou-se muito indignado por as pessoas lerem essas informações, mesmo sabendo que nem sempre são verdadeiras.

Quando eu me preparava para o interrogatório (cada vez menos) habitual e já começara a dar voltas à imaginação para rebater o anguloso questionário com desculpas do tipo “Já é tarde, tens de dormir. Amanhã continuamos…” eis que ele me surpreende com esta afirmação:

“Isso não está certo! É jogar com as palavras!”

“Jogar com as palavras?!”

“Sim. É como se transformassem as pessoas em personagens e criassem um mundo fantástico sobre elas.”

Quis que ele repetisse. Queria ter a certeza de que era mesmo aquilo que ele dissera. Recusou-se. já tinha dito tudo!

Ele adormeceu. Eu despertei…

domingo, 14 de março de 2010

...

"Um enorme quartel governado por soldados pacifistas."

Definição feita pelo Doutor Nuno Lobo Antunes para um Mundo governado por pessoas com a Síndrome de Asperger.

Eu não poderia estar mais de acordo...

domingo, 7 de março de 2010

Robot

Remexendo no baú das memórias, folheio um álbum e de repente deparo-me com um par de olhos brilhantes, boquita aberta num sorriso franco, carinha laroca, fixa na câmara fotográfica! Nas mãos segura um velho comando de TV… Detonador de tão grande satisfação! Recordo com certa nostalgia…

Era tão complicado para ele compreender o porquê das tarefas. Não percebia que as regras eram para cumprir, mesmo que interferissem com a rotina, quebrassem o normal decorrer de uma brincadeira. Qualquer mudança ou simples alteração, fazia desmoronar o castelo de cartas que era o seu mundo e gerava-se o CaOs… Seguiam-se os gritos, choros ininterruptos, esgadanhar de mãos e pés…! Escutava, mas não descodificava a mensagem.

Recordo, em especial a hora do banho. Não queria, fugia, escondia-se, inventava mil e um pretextos que nos arremessava como armas ao mesmo tempo que encetávamos o jogo do gato e do rato (confesso que devo a estes momentos, parte da minha boa condição física). Quando finalmente o convencíamos a despir-se e entrar na água, era frequente o banho prolongar-se…

Esta fase durou algum tempo. Se disser que não nos irritávamos e que tínhamos sempre muita paciência, estaria a mentir. Num desses dias, em que eu já previa o inicio de mais um duelo entre a imposição das nossas vontades, antecipando a troca de argumentos, para a qual eu sentia que não tinha forças, lembrei-me dirigir a ele como se fosse um robot.

Assumi então, uma voz silabada, tom mecanizado, gestos coordenados e simétricos, andar robotizado e ordenei-lhe que tinha de ir ao banho. Ele olhou para mim, arregalou os olhos e correu na minha direcção obedecendo fielmente às minhas ordens, soltando gritinhos de satisfação. Eu nem queria acreditar! Ele também não! Queria ser também robot. Com a condição de cumprir todas as ordens, passei-lhe para as mãos o velho comando de TV . Perdão, o comando do robot .

Naquela noite, não houve choro para tomar banho, nem para jantar, nem para ir para a cama, nem para coisa nenhuma.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ooopsss!

“Não te quero mais! Não serves para mãe!

“…?”

“Não me deixas fazer o que eu quero. Portanto, vou arranjar outra mãe que não me obrigue a fazer os trabalhos de casa e que me deixe fazer só o que me apetece!”

“Está bem. Podes começar a procurar uma mãe nova. Talvez tenhas sorte e encontres uma mãe que te dê toda a liberdade: te deixe ficar as horas que quiseres no computador; te deixe ficar acordado até mais tarde e, com sorte, nem se preocupe se faltas à escola; se tomas banho ou se a roupa que vestes está limpinha.”

“…Hum! Pensando melhor é preferível ficar contigo. Afinal mudei de ideias e já não quero trocar de mãe.”

“Então? Parecias tão decidido. O que te fez mudar de opinião?”

“É que se arranjo uma mãe que me deixe fazer tudo, eu não vou saber o que é certo e o que é errado.” (abracinho e beijinho gostoso. Que feliz fiquei de ser novamente readmitida na função de mãe J).

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Papão das Letras

Interiorizar o mecanismo da leitura foi sem sombra de dúvida, a mais árdua tarefa que o nosso filho teve que enfrentar até agora, no seu percurso escolar.

Embora reconhecesse as letras, juntá-las para formar palavras parecia uma tarefa hercúlea que se traduzia num esforço diário tremendamente exaustivo e desesperante para ambas as partes. A hora dos trabalhos de casa comparava-se a um campo de batalha em que, de um lado, estava o nosso filho fazendo valer a sua convicção a plenos pulmões (É muito difiiiciiilllll! Não sou capaaaaz!) e do outro nós, transpirando esforço emocional, tentando não desesperar perante a sua forte determinação.

Tornar a leitura em algo apetecível foi a primeira preocupação. Nada fácil, uma vez que para ele, tudo o que faz que não seja compreendido e executado com perfeição torna-se numa fonte de frustração, automaticamente visto como “alvo a abater”.

Felizmente habituámo-lo desde muito cedo (mesmo antes de lhe ser diagnosticado a Síndrome de Asperger) a escutar uma história antes de adormecer. É um hábito que já faz parte da sua rotina e o qual dificilmente consegue dispensar. Começámos aos poucos a “negociar” com ele para que lesse algumas palavras. Com o tempo, as palavras passaram a frases silabadas. Quase sem se aperceber, passou das frases a parágrafos. Cada etapa era festejada com fortes elogios, que aos poucos lhe iam fortalecendo o ego e aumentando a auto-estima. Hoje, já lê capítulos sem pedir que façamos uma segunda leitura, pois já compreende integralmente tudo o que lê!

Recentemente, surpreendeu-nos quando, após ter lido as instruções de uma ficha de trabalho e ter sido elogiado pelo seu esforço, repetiu a mesma leitura de uma forma silabada e imperceptível, terminando num choro fingido: “Nãããooooo seiiiii leeeerrr!... Vês mãe, era assim que eu lia!”.

Umas das leituras que mais o têm cativado (confesso, também a nós) nesta última fase são as aventuras de “Jerónimo Stilton”. Trata-se de uma colecção de aventuras protagonizadas e narradas por um simpático ratinho, repórter de profissão, que se envolve nas mais hilariantes situações. Como cúmplices nas suas aventuras conta quase sempre com a companhia da sua irmã Tea, do seu primo Esparrela e o seu sobrinho preferido, Benjamim (http://www.geronimostilton.com/).

domingo, 10 de janeiro de 2010

A Descoberta

No final do ano lectivo anterior, o nosso filho começou a aperceber-se que comparativamente aos seus colegas, reagia de um modo diferente em situações idênticas. Sentia-se triste e perturbado com o seu próprio comportamento, por vezes disruptivo e sentia que o mesmo dificultava a sua relação com os seus pares. Verbalizava frequentemente o desejo de agir como os colegas, sem no entanto o conseguir fazer.

Considerámos ser a altura ideal para que ele conhecesse a sua “história”. Com a cabecinha aninhada no meu ombro e enquanto brincava distraidamente com as minhas mãos escutou, pela primeira vez, eu dizer que ele era um menino “especial”. Tinha nascido com uma perturbação chamada Síndrome de Asperger, responsável por ele ser diferente da maioria das outras crianças e como tal possuir uma percepção diferente da realidade. Descrevi-lhe as várias características que definem um Aspie, salientando que desse conjunto, umas se evidenciam mais numas pessoas que noutras. Passei a explicar-lhe quais as características que o faziam diferente; Queria que ele não se sentisse “culpado” por não ser igual aos outros meninos; Queria fazê-lo compreender que a culpa de não agir conforme as outras crianças não era sua, mas de uma “força maior” contra a qual mais não poderia fazer que aprender a conviver, com a ajuda do tempo e todo o amor da família. Disse-lhe por fim, que no seu caso, a sua evolução tem sido muito positiva.

Escutou-me sem (surpreendentemente) me interromper. No final, estendeu o braço à volta do meu pescoço, aproximou o rosto do meu e murmurou “Queres então dizer que eu sou um Asperger incompleto?”.

Naquela noite, o sono foi mais sereno. Tinham sido espantados alguns “fantasmas” …

domingo, 3 de janeiro de 2010

Regras são Regras

Na consulta de avaliação da toma do Risperdal, estava tudo bem, à excepção do significativo aumento de peso, nos últimos dois meses.

Tens de perder peso.” Sentenciei. Olhou para mim e disse: “Quer dizer que tenho de fazer dieta?!... Deixar de comer tudo o que gosto?!”. Por breves momentos deixou que penetrasse aqueles olhos verdes acinzentados a marejarem-se de lágrimas para depois, num movimento repentino e previsível, explodir num choro desesperado e suplicante. Não queria passar fome!

Como de costume, deixei que chorasse e deitasse cá para fora todas as suas angústias e receios (não adianta tentar explicar-lhe seja o que for quando está assim…). Depois, com calma, expliquei-lhe que não iria deixar de comer o que gosta. Salvo pequenas omissões, comeria de tudo, só que em menor quantidade e dividido por várias refeições ao longo do dia. Compreendeu que seria melhor para ele fazer estes reajustamentos, antes que ficasse obeso e tivesse que suportar todos os problemas de saúde que tal estado pode acarretar.

Já lá vão duas semanas de “dieta”. Partilho convosco dois episódios protagonizados por ele, que me deixaram deveras sensibilizada e profundamente emocionada com a forma como ele levou a sério esta “missão” de regular o seu peso.

Numa destas tardes, depois de passar algum tempo na rua a brincar com alguns amigos cá do bairro, foi para casa de um deles jogar Play Station. Passado algum tempo, apareceu em casa. Chamou-me da porta e com ar de quem não se podia demorar muito tempo, perguntou-me: “Mãe, posso comer um chupa-chupa?”. “Não te posso dar um chupa-chupa. Não tenho guloseimas em casa.” – Respondi. “Não quero que me dês. É que a mãe do Rafa está a dar chupa-chupas a todos, mas eu disse-lhe que só podia comer se me deixasses. Por isso vim-te perguntar.

Antes de me dar oportunidade de resposta, juntou as palmas das mãos e em jeito de prece suplicou: “Vá lá mãe! É Nataaaal! Deixa-me comer só um. Não me deixes ficar a olhar para eles!” “Está bem! Só um.” Ainda eu não tinha pronunciado a última palavra, já ele dobrava a esquina, saltitando na direcção da casa do Rafa.

Fiquei à porta, embasbacada a pensar porque não teria ele aceite o chupa-chupa sem se preocupar em me vir perguntar (eu dificilmente descobriria que ele o tinha comido). Acredito também que se lhe tivesse negado tão saboroso momento, ele tê-lo-ia respeitado. A resposta está decerto, na rigidez com que cumpre as regras.

Outra situação teve lugar em casa de um dos seus (poucos) amiguinhos, à hora do lanche.

Quando a mãe desse menino se preparava para fazer uma tosta mista, o nosso filho apressou-se a dizer: “Para mim, um iogurte, se faz favor, que a minha mãe não me deixa comer pão.” Esqueceu-se de dizer que não o deixo é comer tanto pão, como comia.

Graças a Deus que eu tivera, anteriormente, uma conversa com a minha amiga, no sentido de a preparar para uma eventual “saída” do meu filho, sobre os seus novos hábitos alimentares.