domingo, 10 de janeiro de 2010

A Descoberta

No final do ano lectivo anterior, o nosso filho começou a aperceber-se que comparativamente aos seus colegas, reagia de um modo diferente em situações idênticas. Sentia-se triste e perturbado com o seu próprio comportamento, por vezes disruptivo e sentia que o mesmo dificultava a sua relação com os seus pares. Verbalizava frequentemente o desejo de agir como os colegas, sem no entanto o conseguir fazer.

Considerámos ser a altura ideal para que ele conhecesse a sua “história”. Com a cabecinha aninhada no meu ombro e enquanto brincava distraidamente com as minhas mãos escutou, pela primeira vez, eu dizer que ele era um menino “especial”. Tinha nascido com uma perturbação chamada Síndrome de Asperger, responsável por ele ser diferente da maioria das outras crianças e como tal possuir uma percepção diferente da realidade. Descrevi-lhe as várias características que definem um Aspie, salientando que desse conjunto, umas se evidenciam mais numas pessoas que noutras. Passei a explicar-lhe quais as características que o faziam diferente; Queria que ele não se sentisse “culpado” por não ser igual aos outros meninos; Queria fazê-lo compreender que a culpa de não agir conforme as outras crianças não era sua, mas de uma “força maior” contra a qual mais não poderia fazer que aprender a conviver, com a ajuda do tempo e todo o amor da família. Disse-lhe por fim, que no seu caso, a sua evolução tem sido muito positiva.

Escutou-me sem (surpreendentemente) me interromper. No final, estendeu o braço à volta do meu pescoço, aproximou o rosto do meu e murmurou “Queres então dizer que eu sou um Asperger incompleto?”.

Naquela noite, o sono foi mais sereno. Tinham sido espantados alguns “fantasmas” …

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