domingo, 3 de janeiro de 2010

Regras são Regras

Na consulta de avaliação da toma do Risperdal, estava tudo bem, à excepção do significativo aumento de peso, nos últimos dois meses.

Tens de perder peso.” Sentenciei. Olhou para mim e disse: “Quer dizer que tenho de fazer dieta?!... Deixar de comer tudo o que gosto?!”. Por breves momentos deixou que penetrasse aqueles olhos verdes acinzentados a marejarem-se de lágrimas para depois, num movimento repentino e previsível, explodir num choro desesperado e suplicante. Não queria passar fome!

Como de costume, deixei que chorasse e deitasse cá para fora todas as suas angústias e receios (não adianta tentar explicar-lhe seja o que for quando está assim…). Depois, com calma, expliquei-lhe que não iria deixar de comer o que gosta. Salvo pequenas omissões, comeria de tudo, só que em menor quantidade e dividido por várias refeições ao longo do dia. Compreendeu que seria melhor para ele fazer estes reajustamentos, antes que ficasse obeso e tivesse que suportar todos os problemas de saúde que tal estado pode acarretar.

Já lá vão duas semanas de “dieta”. Partilho convosco dois episódios protagonizados por ele, que me deixaram deveras sensibilizada e profundamente emocionada com a forma como ele levou a sério esta “missão” de regular o seu peso.

Numa destas tardes, depois de passar algum tempo na rua a brincar com alguns amigos cá do bairro, foi para casa de um deles jogar Play Station. Passado algum tempo, apareceu em casa. Chamou-me da porta e com ar de quem não se podia demorar muito tempo, perguntou-me: “Mãe, posso comer um chupa-chupa?”. “Não te posso dar um chupa-chupa. Não tenho guloseimas em casa.” – Respondi. “Não quero que me dês. É que a mãe do Rafa está a dar chupa-chupas a todos, mas eu disse-lhe que só podia comer se me deixasses. Por isso vim-te perguntar.

Antes de me dar oportunidade de resposta, juntou as palmas das mãos e em jeito de prece suplicou: “Vá lá mãe! É Nataaaal! Deixa-me comer só um. Não me deixes ficar a olhar para eles!” “Está bem! Só um.” Ainda eu não tinha pronunciado a última palavra, já ele dobrava a esquina, saltitando na direcção da casa do Rafa.

Fiquei à porta, embasbacada a pensar porque não teria ele aceite o chupa-chupa sem se preocupar em me vir perguntar (eu dificilmente descobriria que ele o tinha comido). Acredito também que se lhe tivesse negado tão saboroso momento, ele tê-lo-ia respeitado. A resposta está decerto, na rigidez com que cumpre as regras.

Outra situação teve lugar em casa de um dos seus (poucos) amiguinhos, à hora do lanche.

Quando a mãe desse menino se preparava para fazer uma tosta mista, o nosso filho apressou-se a dizer: “Para mim, um iogurte, se faz favor, que a minha mãe não me deixa comer pão.” Esqueceu-se de dizer que não o deixo é comer tanto pão, como comia.

Graças a Deus que eu tivera, anteriormente, uma conversa com a minha amiga, no sentido de a preparar para uma eventual “saída” do meu filho, sobre os seus novos hábitos alimentares.

2 comentários:

  1. Parabéns Ana está muito bom. Força!
    Beijinhos
    Helena

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  2. "Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade" (Raul Seixas). Obrigada amiga! O teu apoio é muito importante para que este projecto se torne realidade, cresça e cumpra a sua missão! Bjs.

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