segunda-feira, 26 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Papéis invertidos...

O dia mantivera-se solarengo com uma temperatura agradável, convidando a um mergulho. Todavia, o final do dia aproximava-se salpicando o céu de nuvens acinzentadas, prenuncio de uma noite chuvosa. Ao mesmo tempo surgia uma leve brisa que nos acariciava a pele com o ar morno da tarde .
A promessa estava feita e não havia como voltar atrás. Vestimos os fatos de banho, preparámos o saco e descemos até à praia (confesso que da minha parte, um pouco a contra gosto). Chegados lá, verificámos que a maré estava a subir. Caminhámos pela rampa de cimento até ao areal e seguimos até ao nosso poiso habitual. Pelo caminho parámos para trocar meia dúzia de palavras com uma amiga. Reparei que, com excepção de nós, apenas um grupo de veraneantes se encontrava alguns metros mais à frente. Comentei com a minha amiga que tal situação me deixava desconfortável, pois apesar de a praia ser segura, preferia que estivessem mais pessoas. Ele ajoelhara-se e estivera entretido a esgravatar na areia, construindo um castelo ou algo semelhante... De súbito, interrompeu a conversa com estas palavras: "Mãe. Se te sentires mais confortável podemos ir para a piscina. Eu não me importo." (referia-se a uma piscina natural que também é hábito frequentarmos).
Não fomos embora. Permanecemos na "nossa enseada", chapinhando na água e deixando que as ondas quebradas pelos rochedos nos arrastassem pela areia (manteve-se o pacto de não ultrapassar o nível da água pela cintura).
Só quando as ondas vieram roçar a ponta das toalhas, deu sinais de preocupação. Não queria ficar preso na enseada.
Desta vez foi ele a apressar-me. Queria despachar-se, ir para casa, tomar banho, jantar e depois dar um passeio pelo pontão da marina descobrindo no horizonte, entre o mar e o céu, formas escondidas nas nuvens! (às vezes invejo-lhe esta capacidade de planeamento).

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A bicicleta...

Gemeu ao dobrar o joelho para se calçar…as nódoas negras e os arranhões que lhe mancham as pernas são o testemunho da luta que travou para conseguir aprender a andar de bicicleta.

Recebeu-a de presente quando fez cinco anos. Não lhe deu nenhuma importância, deixando-a esquecida num recanto do hall de entrada. Salvo quando lhe perguntávamos se queria aprender, nunca se referia a semelhante objecto. Desconfio até que no seu íntimo terá desejado muitas vezes que não existisse (até mesmo que nunca tivesse sido inventado). Para quê? Já sabíamos que não gostava. Não queria e nunca, mas mesmo nunca iria aprender a andar. Era muito difícil!

Da mesma forma que lhe colocamos o pepino e o tomate no prato, mesmo sabendo que não o vai comer, continuamos a fazê-lo porque acreditamos que um dia (pode demorar meses) não vai resistir e vai prová-los, também nos limitámos a fazer, de vez em quando, referência à pequena bicicleta vermelha e prateada que, tal como nós, esperava pacientemente a sua estreia.

Entretanto, aprendeu a equilibrar-se nos patins e a nadar. Recentemente, em conversa, calhou comparar o grau de dificuldade destas aprendizagens com a de aprender a andar de bicicleta. Ficou admirado por eu achar que esta última era muito mais fácil (para mim foi, tendo em conta que aprendi a andar de patins aos trinta e cinco anos). Parecia mentira que tal fosse possível. Mesmo assim, guardou a informação. Não se falou mais do assunto.

Há dois dias, acordou e disse: “Hoje quero aprender a andar de bicicleta. Ensinas-me?”. Despachei-me em tempo recorde (não fosse ele mudar de ideias) e em poucos minutos estávamos na rua.

O primeiro passo foi ensaiar a queda várias vezes, para ter a certeza que ficava bem entendido (como aliás, mais tarde, se veio a verificar). Depois, treinar o arranque e seguir em frente (aos ziguezagues) comigo a segurar-lhe o selim ao mesmo tempo que lhe chamava a atenção para manter o tronco direito, virar apenas o volante e não inclinar-se sobre a bicicleta…Uma hora depois a lição terminava com ele a deslizar rua abaixo, qual cavaleiro tentando domar o seu cavalo. Acabaria estatelado na relva, magoado mas feliz!

Ontem, quando lhe propus uma ida até à praia, respondeu-me que só voltaria à praia quando soubesse andar de bicicleta “na perfeição”. Passou a manhã e a tarde a andar (e a cair também). De todas as vezes que caía, levantava-se mais decidido. Fez do parque o seu campo de batalha empenhado em enfrentar de uma vez por todas a máquina que o desafiara tanto tempo e agora teimava em não deixar-se subjugar. Chorou, resmungou e gritou, mas nunca desistiu. De mim só exigiu que o observasse. Não precisava de ajuda, queria fazer tudo sozinho! Não só o fez, como o conseguiu!

A mim coube ficar ali, aplaudir e registar o momento.