quinta-feira, 1 de julho de 2010

A bicicleta...

Gemeu ao dobrar o joelho para se calçar…as nódoas negras e os arranhões que lhe mancham as pernas são o testemunho da luta que travou para conseguir aprender a andar de bicicleta.

Recebeu-a de presente quando fez cinco anos. Não lhe deu nenhuma importância, deixando-a esquecida num recanto do hall de entrada. Salvo quando lhe perguntávamos se queria aprender, nunca se referia a semelhante objecto. Desconfio até que no seu íntimo terá desejado muitas vezes que não existisse (até mesmo que nunca tivesse sido inventado). Para quê? Já sabíamos que não gostava. Não queria e nunca, mas mesmo nunca iria aprender a andar. Era muito difícil!

Da mesma forma que lhe colocamos o pepino e o tomate no prato, mesmo sabendo que não o vai comer, continuamos a fazê-lo porque acreditamos que um dia (pode demorar meses) não vai resistir e vai prová-los, também nos limitámos a fazer, de vez em quando, referência à pequena bicicleta vermelha e prateada que, tal como nós, esperava pacientemente a sua estreia.

Entretanto, aprendeu a equilibrar-se nos patins e a nadar. Recentemente, em conversa, calhou comparar o grau de dificuldade destas aprendizagens com a de aprender a andar de bicicleta. Ficou admirado por eu achar que esta última era muito mais fácil (para mim foi, tendo em conta que aprendi a andar de patins aos trinta e cinco anos). Parecia mentira que tal fosse possível. Mesmo assim, guardou a informação. Não se falou mais do assunto.

Há dois dias, acordou e disse: “Hoje quero aprender a andar de bicicleta. Ensinas-me?”. Despachei-me em tempo recorde (não fosse ele mudar de ideias) e em poucos minutos estávamos na rua.

O primeiro passo foi ensaiar a queda várias vezes, para ter a certeza que ficava bem entendido (como aliás, mais tarde, se veio a verificar). Depois, treinar o arranque e seguir em frente (aos ziguezagues) comigo a segurar-lhe o selim ao mesmo tempo que lhe chamava a atenção para manter o tronco direito, virar apenas o volante e não inclinar-se sobre a bicicleta…Uma hora depois a lição terminava com ele a deslizar rua abaixo, qual cavaleiro tentando domar o seu cavalo. Acabaria estatelado na relva, magoado mas feliz!

Ontem, quando lhe propus uma ida até à praia, respondeu-me que só voltaria à praia quando soubesse andar de bicicleta “na perfeição”. Passou a manhã e a tarde a andar (e a cair também). De todas as vezes que caía, levantava-se mais decidido. Fez do parque o seu campo de batalha empenhado em enfrentar de uma vez por todas a máquina que o desafiara tanto tempo e agora teimava em não deixar-se subjugar. Chorou, resmungou e gritou, mas nunca desistiu. De mim só exigiu que o observasse. Não precisava de ajuda, queria fazer tudo sozinho! Não só o fez, como o conseguiu!

A mim coube ficar ali, aplaudir e registar o momento.

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