terça-feira, 6 de julho de 2010

Papéis invertidos...

O dia mantivera-se solarengo com uma temperatura agradável, convidando a um mergulho. Todavia, o final do dia aproximava-se salpicando o céu de nuvens acinzentadas, prenuncio de uma noite chuvosa. Ao mesmo tempo surgia uma leve brisa que nos acariciava a pele com o ar morno da tarde .
A promessa estava feita e não havia como voltar atrás. Vestimos os fatos de banho, preparámos o saco e descemos até à praia (confesso que da minha parte, um pouco a contra gosto). Chegados lá, verificámos que a maré estava a subir. Caminhámos pela rampa de cimento até ao areal e seguimos até ao nosso poiso habitual. Pelo caminho parámos para trocar meia dúzia de palavras com uma amiga. Reparei que, com excepção de nós, apenas um grupo de veraneantes se encontrava alguns metros mais à frente. Comentei com a minha amiga que tal situação me deixava desconfortável, pois apesar de a praia ser segura, preferia que estivessem mais pessoas. Ele ajoelhara-se e estivera entretido a esgravatar na areia, construindo um castelo ou algo semelhante... De súbito, interrompeu a conversa com estas palavras: "Mãe. Se te sentires mais confortável podemos ir para a piscina. Eu não me importo." (referia-se a uma piscina natural que também é hábito frequentarmos).
Não fomos embora. Permanecemos na "nossa enseada", chapinhando na água e deixando que as ondas quebradas pelos rochedos nos arrastassem pela areia (manteve-se o pacto de não ultrapassar o nível da água pela cintura).
Só quando as ondas vieram roçar a ponta das toalhas, deu sinais de preocupação. Não queria ficar preso na enseada.
Desta vez foi ele a apressar-me. Queria despachar-se, ir para casa, tomar banho, jantar e depois dar um passeio pelo pontão da marina descobrindo no horizonte, entre o mar e o céu, formas escondidas nas nuvens! (às vezes invejo-lhe esta capacidade de planeamento).

3 comentários:

  1. Delicioso.
    Um retrato fiel do nosso menino.
    Ler estas linhas ajuda bastante a matar saudades vossas.
    Um grande beijo para os dois.

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  2. Criança autista, hoje pensei em ti,

    Dá-me a tua mão, leva-me ao teu mundo,

    Para mim és uma flor de exótica beleza,

    Podes ser jovem, adulto,

    Mas manténs a sensibilidade que eu já perdi.

    Ficas isolada no teu canto, não queres brincar,

    Eu sei que tens dificuldade de me entender,

    De entender este meu mundo feio, pesado,

    Preferes o teu, feito de luz e harmonia.

    Criança, sou eu que sou diferente

    Sou eu que erro, que peco,

    Sou eu que faço sofrer, que não sei viver,

    Criança, mostra-me o teu mundo,

    Ensina-me a ser a ser feliz.

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  3. Muito bonito!
    Como alguém me disse uma vez "Todos nós devíamos ser um pouco Aspergers". O mundo teria concerteza mais harmonia e brilho.
    Obrigada :)

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