sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Apresentação

Aos três anos de idade, foi diagnosticado ao nosso filho a perturbação da Síndrome de Asperger. Desde então, temos percorrido um longo e tortuoso caminho, no sentido de o ajudar a gerir o “seu problema” e poder construir uma vida o mais normal possível.

O primeiro grande passo, foi interiorizar que o nosso menino era “diferente”, prevalecendo desde o início a noção de que para o ajudar no seu crescimento e no seu desenvolvimento pessoal e social, teríamos que o respeitar tal e qual como ele se nos apresentava, ou seja, aceitar o “pacote completo” (amá-lo, fizemo-lo logo no primeiro instante em que ele surgiu nas nossas vidas).

Com uma perturbação que se caracteriza sobretudo pela dificuldade de interacção social, falta de empatia, interpretação muito literal da linguagem, dificuldade com mudanças, perseverança em comportamentos estereotipados, que no seu conjunto, causam alguma dificuldade na sua integração social, é portanto, uma imensa alegria, sempre que o nosso filho consegue ultrapassar e aprende a gerir alguma situação, que para qualquer criança dita “normal”, mais não é que uma actividade rotineira (por exemplo, aceitar que alguém olhe para ele, enquanto come).

O que deveras me angustia e me revolta não é o problema do nosso filho, mas antes a incompreensão, a arrogância e a insensibilidade de algumas pessoas perante algumas atitudes protagonizadas por ele, normalmente em lugares públicos. Quantas vezes verbalizados directamente ou não, ouvimos comentários menos abonatórios sobre a “falta de educação do miúdo”, seguidas de um rol de sugestões de como se poderia resolver o problema. Ao longo dos anos aprendi a ignorar esse tipo de intervenções, preferindo justificar semelhantes atitudes, com a ignorância retratada nas palavras proferidas.

Já lá vão cinco anos, recheados de recordações, umas mais dolorosas , outras na sua grande maioria, muito felizes. Acredito que nada acontece por acaso e julgo que se o meu filho nasceu com esta perturbação, foi para que, através dele, eu me tornasse uma pessoa melhor. Posso afirmar com toda a convicção que se hoje sou uma pessoa mais forte, positiva e decidida, devo-o à sua existência na minha vida.

Para além de estar presa a ele pelos laços sanguíneos, sinto-me irremediavelmente cativada por aquele palmo e meio de gente que me ensinou a apreciar a beleza dos gestos mais simples. Por isso e por achar que vale a pena, criei este Blog para partilhar com todos quantos passam por experiências semelhantes ou os que o visitarem apenas por curiosidade ou simpatia pelo assunto, alguns episódios e experiências vividas por nós na companhia do nosso filho Aspie. Algumas situações descritas dirão respeito ao presente, outras serão relatadas como lembranças de algum tempo atrás.

Dedico esta página sobretudo ao seu protagonista: o nosso filho, mas também a todos quantos na travessia desta estrada me têm apoiado, oferecendo o seu tempo para escutar os meus desabafos nos piores momentos e me consolam com palavras de ânimo: os meus amigos. Dedico-o também ao Doutor Nuno Lobo Antunes e à Doutora Inês Leitão (CADIn) pelo apoio dado, mesmo à distância (quem me dera estar mais perto), pela disponibilidade prestada sempre que a situação assim o exige e também por, indirectamente me ajudarem a manter "os pés no chão". À minha querida Elvira que tão bem cuida do nosso menino. Mais palavras para quê? Finalmente a ti. Obrigada pelo apoio e por estares sempre do nosso lado, por me dares força quando eu já não sei onde procurá-la e sobretudo por me apontares o Norte nos momentos de desorientação.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O que é a Sindrome de Asperger?

A Síndrome de Asperger é uma desordem pouco comum, contudo importante na prevenção do processo psicológico de crianças, que tardiamente é diagnosticado devido à falta de conhecimento por parte dos profissionais, nomeadamente dos professores e educadores. Esta síndrome é uma categoria bastante recente na divulgação científica e encontra-se em uso geral nos últimos 15 anos.

A Síndrome de Asperger é normalmente referido como um Autismo clássico com menor gravidade, por não comportar nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo. É mais comum no sexo masculino, em uma proporção de dez homens para cada mulher. No entanto é de consenso geral que as pessoas afectadas por esta síndroma fazem parte da Perturbação do Autismo, com traços distintos suficientes para garantir um “rótulo” próprio.

É de salientar, que apesar de possuírem uma inteligência normal ou superior, apresentam dificuldades específicas de aprendizagem.

Caracterizam-se por apresentar limitações subtis na tríade comunicação social, interacção social e imaginação social.

Em certos casos, também se registam problemas adicionais de organização e coordenação motora.

Em resultado da análise da comunicação original de Asperger, Lorna Wing (1981) enumerou os seguintes critérios para a Síndrome de Asperger:

  • Limitação da interacção social bidireccional e inaptidão social generalizada;
  • Linguagem peculiar e pedante, de conteúdo estereotipado, mas sem atrasos;
  • Capacidades limitadas de comunicação não verbal – poucas expressões faciais ou gestos;
  • Resistência às mudanças e gosto por actividades repetitivas;
  • Interesses especiais circunscritos e boa capacidade de memorização;
  • Fraca coordenação motora, com aspecto e porte peculiares e alguns movimentos estereotipados.