segunda-feira, 6 de junho de 2011

Inquietações

Quando a incerteza da mudança o assombra, revolvendo-lhe as entranhas, sobressaltando-lhe o sono com sonhos inquietantes, sei que a porta do quarto se vai abrir de rompante, a meio da noite e no escuro, os braços que procuram o conforto do colo me hão-de despertar… Sussurrar-lhe-ei de mansinho:
- Vai correr tudo bem.
- Como é que sabes?
- Sei.
Com a confiança restabelecida (não sei por quanto tempo) irá resgatar um sono sereno, reconfortante, livre de inquietações.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Imperdível

- Queres que te leia uma adivinha?


"São quatro irmãs. Andam sempre atrás umas das outras, mas nunca se encontram."


- Hummm... Não sei... Serão as fases da Lua???

- Nãããã... Nem lá perto. São as quatro estações do ano. Talvez tivesses percebido se a adivinha fosse assim:


"São três irmãs e uma prima. Andam sempre atrás umas das outras, mas nunca se encontram."


Nota: Quem leu a adivinha? Quem respondeu?

domingo, 6 de março de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Enlevo...

As notas soltam-se, no inicio, inseguras. Depois, com firmeza, libertam-se cada vez mais altas preenchendo o silêncio com uma alegre melodia. Os olhos seguem a pauta, antecipando as notas; os seus dedos percorrem as teclas do piano alegremente ao mesmo tempo que um sorriso lhe ilumina o rosto, numa crescente satisfação. O “Hino da Alegria” (9ª Sinfonia de Beethoven) ecoa pelo espaço, atravessa as paredes materializando-se num arrepio que percorre os braços, a espinha, invade o peito, o corpo, o espírito, paralisando os pensamentos, os movimentos…o tempo…

Quando termina, preciso de alguns segundos para voltar à realidade, abrir os olhos, despegar-me daquele êxtase para o qual me deixei levar…

Os nossos olhares cruzam-se. Não lhe distingo bem a expressão. Tenho a visão turva, mas sei que espera uma reacção.

- Gostaste?

- Lindo! Podes tocar outra vez?

Fecho os olhos e de novo, deixo-me ir.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Tudo a seu tempo

Sempre lhe demos espaço para que evoluísse ao seu ritmo, sem pressões, sem stress…
Em vez de engatinhar para a frente como se espera de um bebé, ele só engatinhava em marcha atrás, o que nunca o impediu de chegar aonde queria. Aos treze meses iniciava a marcha normalmente.
A fralda,
largou-a definitivamente um mês antes do seu terceiro aniversário.
Em conversa com as minhas colegas em que elas contavam alegremente as “saídas” dos seus rebentos, (naquela idade em que tudo o que eles dizem tem muita graça) eu comentava que o meu filho nunca me contava nada. Ríamo-nos, cumplices… Não podia, pois aos três anos não articulava uma palavra. Contudo, passados quatro meses do seu aniversário começou a falar, expressando um discurso coerente e bastante diversificado.
Em relação à linguagem, sempre achei curiosa a forma como enriquecia o seu vocabulário. Quando escutava determinada palavra cujo significado desconhecia, perguntava-nos o que queria dizer. Explicávamos-lhe e ele ficava satisfeito. Julgo que processava e arquivava a informação. Passado algum tempo, às vezes tanto, que já nem nos lembrávamos, no decorrer de uma conversa, em que o contexto proporcionava, ele introduzia uma palavra nova.
Tem sido sempre assim. Põe em prática as competências estipuladas pelos especialistas para determinada idade, não quando nós achamos que as deve por, mas sim quando sente que está preparado para as demonstrar sem risco de falhar (se não o acompanhasse em praticamente todas as horas livres, suspeitaria que as treina em segredo).
Por isso, compreendemos que só aos nove anos se sinta à vontade para “desbravar” certos caminhos, que para uma criança dita “normal”, se iniciam mais cedo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Papéis invertidos...

O dia mantivera-se solarengo com uma temperatura agradável, convidando a um mergulho. Todavia, o final do dia aproximava-se salpicando o céu de nuvens acinzentadas, prenuncio de uma noite chuvosa. Ao mesmo tempo surgia uma leve brisa que nos acariciava a pele com o ar morno da tarde .
A promessa estava feita e não havia como voltar atrás. Vestimos os fatos de banho, preparámos o saco e descemos até à praia (confesso que da minha parte, um pouco a contra gosto). Chegados lá, verificámos que a maré estava a subir. Caminhámos pela rampa de cimento até ao areal e seguimos até ao nosso poiso habitual. Pelo caminho parámos para trocar meia dúzia de palavras com uma amiga. Reparei que, com excepção de nós, apenas um grupo de veraneantes se encontrava alguns metros mais à frente. Comentei com a minha amiga que tal situação me deixava desconfortável, pois apesar de a praia ser segura, preferia que estivessem mais pessoas. Ele ajoelhara-se e estivera entretido a esgravatar na areia, construindo um castelo ou algo semelhante... De súbito, interrompeu a conversa com estas palavras: "Mãe. Se te sentires mais confortável podemos ir para a piscina. Eu não me importo." (referia-se a uma piscina natural que também é hábito frequentarmos).
Não fomos embora. Permanecemos na "nossa enseada", chapinhando na água e deixando que as ondas quebradas pelos rochedos nos arrastassem pela areia (manteve-se o pacto de não ultrapassar o nível da água pela cintura).
Só quando as ondas vieram roçar a ponta das toalhas, deu sinais de preocupação. Não queria ficar preso na enseada.
Desta vez foi ele a apressar-me. Queria despachar-se, ir para casa, tomar banho, jantar e depois dar um passeio pelo pontão da marina descobrindo no horizonte, entre o mar e o céu, formas escondidas nas nuvens! (às vezes invejo-lhe esta capacidade de planeamento).